E
urides mais parece um nome saído da mitologia grega, repleta de mulheres fortes e cientes da responsabilidade de seus feitos, que muitas vezes ocupam o papel meio vago dos homens, quando percebem que as coisas não vão andar como deveriam. Em seus 87 anos de idade, Eurides não teve muito tempo de ver a vida passar, ocupada em criar seis filhos e ajudar a sustentá-los com suas mãos caprichosas, atravessando noites na máquina de costura. Orgulha-se de ter feito o vestido de noiva de sua filha Vera e seus olhos brilham quando fala nos detalhes da costura fina para um dia tão especial. Antes disso, fez outros trabalhos pesados como cuidar da casa de outras pessoas com mais posses.
Hoje, viúva, cabelos de neve, pele clarinha como um dia iluminado, unhas sempre pintadas, ela passa os dias sentada em uma poltrona, ou na cama, e faz pequenas caminhadas com a ajuda de sua filha Marta e do fisioterapeuta Eduardo na singela pracinha em frente sua casa, em dos mais antigos bairros de Ribeirão Preto. Não se pode descuidar de seus remédios que a mantêm um pouco mais saudável, nem do marca-passo inserido no peito para dar alento a seu coração repleto também de dores como a maior delas, quando perdeu dois filhos jovens e ainda sobrar amor para ajudar na criação dos netos como se filhos fossem, sempre que se fez necessário.
Como tantas outras mulheres e homens abraçados pela velhice, deixa entrever, vez ou outra, pelas fímbrias de seu silêncio, uma lembrança ou outra como o trem que a levava de Salles Oliveira, pequena cidade onde nasceu, seu nome completo, endereço… mas logo se cansa e diz que não lembra mais nada.
Sua história está lá, permanece escrita no mistério do pensamento, bonita e cheia de passagens que nunca venhamos a conhecer. Mas, seja ela qual for, o que se vê em Eurides é uma mulher forte, mesmo que sua força esteja se esvaindo.